Dexter pousou o prato sujo na bancada da cozinha e passou os talheres por água, lentamente, a ver o líquido saltar sobre o metal refulgente. Com um movimento de pulso, empurrou a torneira e o fio transparente que corria até à superfície do lavatório cessou. Limpou a humidade das mãos a uma toalha que pendia da parede e abriu a porta do frigorífico. Uma vaga de ar gélido mordeu-lhe o pescoço e os braços. Perguntou-se como o irmão podia um frigorífico tão vazio; apenas uma lata de soda e uma cenoura solitária se arrastavam nos fundos de uma prateleira. Dexter fechou a porta do electrodoméstico e, através do arco que separava a cozinha do resto da casa, observou a amplidão da sala. O apartamento de Sawyer Hayden, estrategicamente situado no coração de Washington, era alvo de uma luz branca e plana que se reflectia em todos os outros edifícios e entrava pela ampla janela panorâmica em vários ângulos macios e coloridos que se afastavam e subiam pelas paredes. Dexter encostou-se à parede e cruzou os braços com algum esforço; a ligadura apertou-lhe a pele e fez uma pressão tépida sobre o músculo. Ainda lhe custava a acreditar que o irmão, o eterno homem sem pátria, tivesse voltado a casa. Sabia que aquilo que tinha vindo fazer, os assuntos que viera finalmente resolver, mexiam com ele e levavam-no a misturar realidade com ficção. Dexter lembrava-se demasiado vividamente do dia em que o irmão havia sido alvejado. O sangue, tanto sangue. Era fascinante que um líquido tão vermelho, tão refulgente, fizesse a vida tal como ela é. No entanto, no caso de Sawyer, à medida que aquele líquido tão cristalinamente belo corria livremente ao ar ambiente, o homem perdia cor e os seus lábios ficavam frios e secos. A vida desaparecia, como neve debaixo do sol.
Dexter só se apercebeu da campainha alguns minutos depois de esta ter tocado, insistentemente. De volta à realidade, perguntou-se se alguém saberia que Sawyer estava de volta a Washington. Perguntou-se se A Rainha saberia.
O homem atravessou a sala, destrancou a porta de entrada e abriu-a.
- Dexter. Querido Dexter.
Um par de braços nus, elegantes e pálidos envolveram-lhe o pescoço num laço estreito e quente como fogo. O rosto de Dexter ficou mergulhado numa densa cabeleira negra que cheirava estranhamente a fruta. Ouviu o inusitado tilintar de uns brincos metálicos, de muitos brincos metálicos.
- Tive tantas saudades tuas, Dex. Nem imaginas.
- Marianne. – e envolveu-a mais no seu abraço.
O coração enterrou-se-lhe no peito e vibrou com o pulsar da sensação que lhe percorria as veias. Era como se ela, por alguma ligação simbiótica, o injectasse com uma ardente energia. E o sabor desse poder cresceu dentro dele, igualando o desejo de a ter.
Marianne libertou-se do abraço e afastou o cabelo do rosto de forma lenta, quase meticulosa. Colocou as mãos em volta dos bíceps de Dexter e respirou profundamente.
- Não apertes com muita força. – disse ele – Estou magoado.
Ela recolheu aos mãos rapidamente e dispô-las em cruz sobre o peito.
- Desculpa, Dex. Realmente o teu irmão tinha-me avisado, mas esqueci-me. Desculpa.
- O meu irmão? Estiveste com o Sawyer?!
Ela baixou o rosto. Percebeu imediatamente depois de ter falado que provavelmente teria sido melhor não ter feito aquele reparo. Isto porque Dexter, apesar de idolatrar o irmão até níveis excessivos, até perigosamente elevados, nutria uma certa inveja por ele. Sawyer era o típico dominador, o homem forte que recolhia todas as energias dos outros e as emitia amplificadas. O homem que iluminava o mundo com uma palavra apenas porque era sua. O homem que todos queriam ser. Marianne conhecia-os, bem demais. No entanto, não podia negar que, apesar de nutrir maior afecto por Dexter, Sawyer causava nela outro tipo de emoção, baseada na curiosidade e intriga em relação àquele homem de mil faces que lhe lançava um olhar em branco, à espera de ser preenchido.
- Estive, sim. – respondeu – Foi só um minuto, para discutirmos um caso. Ou pseudo-caso.
- A Rainha?
- Mais ou menos, é complicado.
Dexter meneou a cabeça.
- O Sawyer também diz isso muitas vezes. É complicado. Talvez não seja assim tão complicado.
- Oh, Dex, não sejas assim, já me basta o teu irmão. E não vim aqui para discutir; vim porque tinha saudades e queria passar tempo contigo. Mas, se quiseres, eu vou-me embora.
- Não. – disse ele, num curto fio de voz – Não vás. Fica.
Um segundo de macio silêncio. Marianne sorriu.
- Muito bem, então. Fecha a porta.
Edit:
A Rita (from Electric Twist) passou-me um desafio. E eu não ia dizer que não, como é obvious.
Enunciar 5 manias suas, hábitos muitos pessoais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher 5 bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo. Cada participante deve produzir este regulamento no seu blogue.
Mania nº 1 - Escrever. Calculo que não seja grande surpresa, mas estou sempre a escrever. Maior parte das vezes são coisas grandiosamente idióticas, tal como novelas de nome «Sangue no Colarinho» ou «Laços de Paixão Ardente», mas de vez em quando saem coisas engraçadas. É a minha maneira de falar com o mundo.
Mania nº 2 - Falar sozinha. Esta mania é consequente da mania nº1. Quando não posso escrever, faço notas mentais, e falar comigo mesma é uma fonte fabulosa e sempre fértil de diálogos incrivelmente interessantes.
Mania nº 3 - Beber café. Não passo sem o meu cafezinho às dez da manhã. O acto de ir à máquina, passar o cartão e carregar no botãozinho do «café expresso» já se tornou um hábito tão intrínseco como respirar.
Mania nº 4 - Pintar as unhas. É estúpido, eu sei, e parece incrivelmente «pitês», mas eu sou viciada. Tenho, sem exagerar, dezenas de vernizes nas prateleiras da casa de banho e do meu quarto, começando no preto, passando pelo vermelho, pelo verde, laranja, amarelo, rosa, azul, até acabar no branco. Relaxa-me, e fico com uns dedos infinitamente mais fascinantes.
Mania nº 5 - Cantar nas horas entre as aulas de música. Esta mania é tradição. Há anos que, nos intervalos da Academia, a minha turma (somos 6) se junta em volta de um piano. É incrível, a sério. Tenho imensas memórias boas desses momentos. Recentemente, andamos ocupados a fazer covers dos covers do Glee.
E passo o desafio a:
Mariana*
Sophie (dona do Endlessly)
Mia
Ritaa
Kii