BLOG FECHADO

20
Jan 10

             Os números verdes brilharam contra o fundo negro do despertador numa luz tímida e intermitente. Uma e meia da manhã. Sawyer virou-se na cama e colocou o braço por baixo da cabeça. Não conseguia dormir. Sempre que fechava os olhos, nem que fosse por um segundo, a sua mente era mergulhada na memória implacável do seu único encontro com A Rainha.

 

            A forte porta circular do cofre estava aberta para trás, encostada à parede cimentada da cave do banco. Sawyer Hayden sentia o peso do silêncio sobre os ombros e o coração a bater insistentemente contra o lado interior do peito. Ergueu a arma, estendendo os braços e contraindo todos os músculos. O tecido da camisa adejou levemente com a aragem gelada que provinha do interior do cofre. A única coisa que conseguia ver era uma longa linha de prateleiras de metal a estenderam-se até à humilde parede branca que marcava o final no compartimento. No entanto, sabia que não estaria sozinho dentro daquele cofre. Sabia que Ela estaria lá. Sabia.

 

            O soalho rangeu suavemente. Pela frincha da porta, Sawyer viu o perfil escuro do irmão a recortar-se na claridade amarela do corredor. Desapareceu, e voltou o negrume. Era bom ter o irmão em casa, depois de todo o tempo que passara sem o ver. Nada fora o mesmo desde a morte do pai, um dos melhores agentes da força policial de Washington DC. A mãe sempre se opusera veemente ao desejo que Sawyer tinha de se juntar ao FBI, mas isso nunca fora impedimento a que essa fome fosse saciada. Com um QI de 184, Sawyer Hayden não era um homem comum. O seu invulgarmente aguçado intelecto permitiam-lhe que discernisse coisas que passavam como vento aos restantes agentes do Bureau. Lembrava-se do caso da morte de Allison May, o qual resolvera pela simples observação de uma fotografia da cena do crime. A essência estava nos detalhes, nas coisas escondidas, nas gotas de sangue que não haviam sido limpas, na posição de uma cadeira, numa folha de papel amarrotada a espreitar da lareira. Havia sempre alguma coisa esquecida, alguma coisa fora do lugar. Mas não fora assim com A Rainha. Com o tempo, Sawyer aprendera a aceitar a sua derrota. Ela era mais inteligente que ele e infinitamente mais analítica; não havia nada de errado com os seus crimes, e isso, ao princípio, consumia-o. Não existiam detalhes, apenas vento e silêncio. No entanto, a ideia que agora o inquietava era outra. Estava reformado há quase sete anos, e perdera toda a prática. Encontrava-se enferrujado, não física mas psicologicamente. Se da primeira vez, quando se encontrava no auge da sua carreira, não a conseguira encontrar, o que faria com que agora conseguisse? Aparentemente, nada estava a seu favor. Nem mesmo o tempo. Olhou o despertador. Duas da manhã.

 

             Viu um vislumbre da figura dela entre o brilho metálico das prateleiras. Ao contornar a parede, escondeu-se atrás de uma coluna e lançou um olhar pela fissura de um armário próximo. Ela nada mais era do que um elegante corpo revestido por uma camada de tecido negro. Do ombro, pendia-lhe uma sacola militar com aspecto pesado. Sawyer sabia que Nebulosa estaria dentro dele. Subitamente, ouviu-a expirar; virou-se de forma lenta e progressiva, como se quisesse propositadamente manter a expectativa até ao último instante. Apesar da mascara que lhe cobria o rosto, era inegável que A Rainha era, de facto, uma mulher. A única coisa que o disfarce revelava era um pujante par de olhos azuis, salpicados de cristais cinzentos, como se flutuassem na retina obstinadamente. Perdeu-se naquele olhar.

            - Boa noite, Agente Hayden.

            Quente. Vermelho. Viscoso. Sangue no chão. O seu sangue. E a voz dela tépida e doce contra a pele.

 

            - Acorda, Sawyer.

            A voz do irmão arrancou-o das memórias. Sentiu o seu toque na pele do ombro.

            - Dex? Que se passa?

            - Não sei bem. Tens pessoas na sala a quererem falar contigo.

            Sawyer içou-se sobre os cotovelos, consultando o visor do despertador. Três e dois da manhã.

            - É um pouco cedo para visitas.

            - Eu sei, eu sei. Em circunstâncias normais, não os deixaria entrar, mas eles insistem que é urgente. E, bem, parecem o teu tipo de gente.

            - O meu tipo de gente? O que é que isso supostamente quer dizer?

            Dexter suspirou.

            - São cinco agentes do FBI.

publicado por Katerina K. às 22:38

Estou a adorar!!!
Nitis a 21 de Janeiro de 2010 às 22:04

Ainda Bem :D
cαтн Ϟ a 22 de Janeiro de 2010 às 18:38

Ah, eu cá acho que é desta vez que ele a encontra. x)
E, oh meu Deus, também quero o mesmo QI que aqui o amigo! :o *por acaso, sempre tive curiosidade em saber qual é o meu QI xD*
Ritaa a 22 de Janeiro de 2010 às 19:44

Não te preocupes com a ausência (:
Isto está perfeito !
Tenho que ir ler mais !
Mariana* a 23 de Janeiro de 2010 às 11:24

Hello, aqui estou euuuu hihi :tt
Adorei o capítulo, não é apenas o Swayer que se preocupa com os detalhes, tu também o fazes. E apoia-los numa história verdadeiramente fantástica! Vou continuar :tt
Rita a 28 de Janeiro de 2010 às 15:48

*Sawyer
Rita a 28 de Janeiro de 2010 às 15:49

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