Jonathan Steel olhou com uma lânguida falta de atenção para a caixa metálica que descansava sobre a mesa. Há pouco mais de doze horas, esta contivera Brilho do Pacífico, o mais fabuloso diamante negro da história da humanidade. Agora, o veludo vermelho do seu interior era apenas habitado pelo ar morno do princípio de tarde. Expirou com força. Nada compensaria aquela perda. Absolutamente nada.
Marianne Gray mudou de posição e girou o anel de platina em volta do indicador. A sua unha, coberta por uma refulgente e estaladiça camada de verniz azul cerúleo, arranhou a superfície do braço da poltrona. Não conseguia de deixar de mostrar um sorriso ligeiramente imbecil, característico da sua profissão. O bloco de notas, gentilmente pousado sobre o regaço, encontrava-se aberto numa página em branco intitulada de «Brilho do Pacífico». Lentamente, Marianne encaixou uma mecha de cabelo negro atrás da orelha e lambeu os lábios.
- Senhor Steel, não tenho o dia todo.
Após um minuto de silêncio, o homem respondeu placidamente, como se dissesse a coisa mais óbvia do mundo.
- Se quer a história, menina Gray, vai ter paciência. – sorriu.
Marianne recostou-se na poltrona, e os seus múltiplos brincos tilintaram contra a pele do pescoço. Com um gesto flutuante, agitou a caneta no ar.
- Ouça, isto não é só para meu interesse.
Pela primeira vez, Jonathan pousou o olhar castanho na figura elegante de Marianne Gray. Antes de responder, não pôde deixar de reparar que, apesar de excêntrica, ela era uma mulher cativante. Tê-la numa carreira jornalística era um pleno desperdício. Esperou que ela acabasse de afastar a franja dos olhos e falou.
- Diga-me o que quer saber.
- Tudo. – respondeu ela, sem deixar aquele sorriso estranhamente penetrante.
- Isso é extremamente vago, menina Gray.
- Muito bem, então. – voltou algumas páginas do seu segundo bloco de notas e passou os olhos pelas perguntas que tinha anotado em letra miudinha – Fale-me do diamante.
- O diamante veio parar às minhas mãos há três anos, quando apareceu num leilão de jóias e pedras preciosas. Como é óbvio, eu não podia deixar escapar tal pedra. Assim, não dei limites ao dinheiro que podia gastar na compra do objecto. Quando já o tinha, gastei algum tempo a analisá-lo. Não gosto de confiar as minhas pedras a nenhum especialista, faço tudo sozinho. Apercebi-me que era, de facto um diamante fabuloso, e que provavelmente valeria mais do que a exorbitante quantia que paguei por ele. Não tardei a descobrir que se tratava do Brilho do Pacífico, perdido em meados do século XVIII. Através de alguma pesquisa, inteirei-me da sua história e real valor. Com o passar do tempo, emprestei-o apenas uma vez: ao Museu de História Natural de Nova Iorque. A pedra esteve em exposição durante alguns meses. No final desse período, foi-me devolvida intacta.
- Compreendo. – replicou Marianne, apontando alguma coisa na margem de uma folha.
- Mantenho o diamante em minha casa, num cofre-forte, guardado por dois seguranças. O sistema inclui lasers e imagens em infra-vermelhos.
- O diamante era, portanto, mantido num ambiente de alta segurança? – perguntou ela, levantando os olhos.
- Absolutamente.
- Então como explica que a pedra tenha sido roubada?
Jonathan meneou a cabeça levemente e passou a mão pelo cabelo cor de avelã cuidadosamente penteado.
- Não sei, é algo que me escapa.
- Verdade? – perguntou ela, ironicamente.
- Mas o caso não está nas minhas mãos, menina Gray. Sugiro-lhe que fale com um agente do FBI.
- Ah, fá-lo-ei!
Com um sorriso amplo, Marianne descruzou as pernas e fechou o bloco de notas.