BLOG FECHADO

25
Dez 09

            Já nada importava. Os segredos, os planos, as memórias – nada disso interessava face à ideia aparentemente deliciosa de morrer. Mais do que saber que ia morrer, Violet queria que isso acontecesse. Essa sensação era embalada pelo pingar intermitente das gotas provenientes das fugas dos canos que atravessavam a cave, e a sua mente começava a ser inundada por um bruma flutuante. Pensou que era ridículo como as pessoas se deixavam invadir pelo arrependimento quando, afinal, tudo se eclipsava no momento da verdade. Jesse estaria de acordo com isso; ele sempre fora realista, despreocupado com as superficialidades do mundo. No entanto, nunca teria oportunidade de lhe dizer as coisas que guardou dentro de si, de lhe confessar que tinha o coração no bolso e a alma na ponta dos dedos. Nunca lhe poderia dizer que, na verdade, o amava.

            Sentiu, levemente, a alma escapar da sua morada e ficar a flutuar sobre o corpo. Assim, aos poucos, os sentidos corporais foram-se apagando – a visão escureceu, o olfacto mirrou lentamente, o sabor da boca seca extinguiu-se, deixou de sentir a dor nos pulsos e a textura do cimento nas mãos. Apenas a audição se deixou ficar, como sobrevivente, sendo a sua única ligação ao mundo terreno – a única coisa que a impedia de expiar e ir ter com o pai ao mundo dos brancos, como a mãe lhe dizia. Rostos começavam a surgir da escuridão, num tom dourado que ela reconhecia ser a cor do Sol quando se punha entre a fenda dos pinheiros. Viu-se subitamente transportada para o pátio que ligava as torres Norte e Este da AMPW. Pela maneira como o rio corria, lá em baixo, serpenteando entre as margens, Violet percebeu que era Primavera. No entanto, não se recordava daquele dia. Talvez aquilo fosse uma das recordações perdidas, que se encontrava ao se nadar no limbo entre vida e abismo.

Debruçada sobre o muro, uma delgada figura atirava pequenos fragmentos de pedra para a floresta, e estes perdiam-se na escuridão verde da flora. A brisa agitava a fralda da camisa bege, a qual, amarrotada, pendia por fora das calças de ganga como se não tivesse mais para onde ir. Debaixo da cálida luz do pôr-do-sol, os seus cabelos albinos refulgiam como cristais de neve. Acompanhando a brisa, o seu rosto deslizou para o lado direito, e o seu perfil ficou recortado contra a quente tonalidade do céu. A luz atravessou-lhe os olhos e concedeu-lhes um tom cor de pêssego. Sorriu.

            - Jesse. – proferiu Violet Simmons, e as palavras saíram-lhe como num desabafo.

            - Anda aqui. – disse ele, com um gesto gracioso.

            Ela aproximou-se, e Jesse pegou-lhe na mão.

            - Sabes, sempre quis ter uma pele como a tua, que não ficasse vermelha e inchada quando está um sol radioso, e que tivesse cor.

            - A tua pele tem cor, Jesse. Parece feita de pérola.

            Ele ergueu o olhar e aproximou o seu rosto do dela. Violet sentiu o hálito fresco dele a fustigar-lhe a pele dos lábios e a gelar-lhe as maçãs do rosto.

            - A minha pele é mais mármore que pérola, Violet. – afastou-se sem a beijar – Vem, está quase na hora de jantar.

            - Jesse?- perguntou ela, fragilmente.

            - Diz-me.

            - Nunca me abandones.

            - Abandonar-te? Só se fosse idiota.

            Aquela memória era bela, daquelas que se guardam como tesouros e sobre as quais se escrevem histórias. Abandonar-te? Só se fosse idiota. Violet soube que, se pudesse, choraria. Ele não mantivera essa promessa; fora-se embora, mudara, e agora que o tinha de volta, não tinha a certeza se ele manteria a jura antiga. Provavelmente não.

            Assim, Violet deixou a última réstia de vida escapar do seu corpo. Jacqueline não precisara de a matar, pois sabia que ela morreria por si mesma, conformada com o seu destino e com as coisas que deixava para trás. À medida que ia morrendo, o calor abandonava o seu corpo e a cor escapava-se para o negrume.

            Então, ouviu a voz que lhe aqueceu a alma.

            - Violet?! Não! 

publicado por Katerina K. às 17:31

e não passa da mais pura verdade :x
mary. a 26 de Dezembro de 2009 às 19:13

o pior é que nem sempre se o é.
mary. a 26 de Dezembro de 2009 às 19:18

obrigada :)
mary. a 26 de Dezembro de 2009 às 19:23

Olaaa!!!!



Gostei muito do teu blog. A tua maneira de escrever é realmente muito linda. Não sei se será a palavra correcta. Vou começar a seguir o teu blog . Pois gostei muito daquilo que li



:-)



Obrigada por me apoiares no meu sonho. Ja pus la um pequeno texto .Se quiseres passa lá



Bye


M

Annie a 26 de Dezembro de 2009 às 19:36

Obrigado por teres comentado e dado a tua opinião. Não sei como conseguiste ler toda aquela porcaria, mas de qualquer maneira, fico feliz por gostares :D

Fica bem =)
dani a 26 de Dezembro de 2009 às 21:45

OMR, tu escreves tão bem *o*
Simplesmente AMO esta história... É linda! Este capítulo está absolutamente maravilhoso!
Parabéns, continua a escrever, vais chegar longe!

Beijos <3
Rita. a 26 de Dezembro de 2009 às 22:14

está sim, tens muito talento ^.^
Rita. a 27 de Dezembro de 2009 às 13:25

xDD
Obrigada (A)
inês. a 27 de Dezembro de 2009 às 14:07

o Jesse nunca a abandonaria :) e vem salvá-laaaa. magnífico.

beijinho
Catherine a 27 de Dezembro de 2009 às 14:15

Oh meu deus!!! Posta rápido!!! Estou a adorar!!! Que inveja que eu tenho da tua escrita...
Nitis a 27 de Dezembro de 2009 às 17:24

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