- Cornélia Arnaut? – Edward comprimiu os lábios – Sim, lembro-me dela. Era uma rapariga extraordinária. Se bem me recordo, a mãe dela era checa e o pai francês, o que fazia dela detentora de uma beleza exótica. Muito loira, olhos muito verdes. Mas, aparte isso, sempre foi uma excelente intérprete, apesar de não ser a melhor técnica. Estudou no Le Château uns anos, creio que na mesma turma que a Jacqueline. Chegou a ser acompanhadora do Jesse, não é verdade? – procurou confirmação com o olhar.
Jesse assentiu, com um sorriso nos lábios.
- É verdade, sim. Não era a rapariga mais inteligente de sempre, mas fazia razoavelmente bem o trabalho dela.
- Ela e a Jacqueline eram amigas? – perguntou Violet, enquanto se acomodava no sofá lateral do Café Doirée com uma caneca fumegante entre as palmas das mãos.
- Muito amigas. – respondeu Danny – Aliás, elas as três, a Jackie, a Leah e a Cornélia, formavam um grupo e tanto. Andavam sempre juntas até a Jacqueline, bem, supostamente morrer. Depois, a Leah e a Cornélia saíram do Le Château e, que eu saiba, nunca mais se falaram.
Violet sentou-se sobre as pernas e beberricou o cálido líquido castanho macio.
- Então temos de esclarecer uma coisa. – fez uma mínima pausa teatral – Elas as três eram amigas. A Jacqueline morreu. A Leah e a Cornélia separaram-se. A Jacqueline volta da mentira que se tinha instalado e decide, primeiro, raptar a Leah e depois usar o nome da Cornélia como se fosse o seu. Não estou muito bem a perceber, isto leva-me a crer que há mais nesta história do que parecia ao princípio, que o que está em causa não é apenas a Jacqueline, mas também este grupo.
- Verdade. – disse Jesse, enquanto acabava o seu espresso – Isso faz sentido. Nós já sabemos que a Leah está com a Jacqueline, não há dúvidas nenhumas disso. Mas agora a principal questão é onde está a Cornélia.
Edward semicerrou os olhos. Cornélia…onde estás Cornélia? Encontrá-la seria quase impossível, nem sequer sabiam se ela continuava em França. Por um lado, podia ter ido viver com a mãe para a República Checa. Por outro, podia estar com o pai em Lyon. Até podia estar sozinha nos Estados Unidos. Havia um incontável número de hipóteses a ter em consideração, e isso fazia daquela tarefa inútil. Precisavam de alguém que se soubesse mexer na sociedade discretamente, como uma enguia. Edward sorriu e pegou no iphone com ambas as mãos, procurando ansiosamente qualquer coisa na lista telefónica ao deslizar os polegares sobre o ecrã.
- O que estás a fazer? – perguntou Violet, inclinando-se sobre ele de modo curioso.
- À procura do número de uma pessoa nossa conhecida.
- Nossa conhecida?
- Sim. Quer dizer, mais tua do que minha, mas nossa de qualquer maneira.
- Edward, estás a confundir-me.
- Eu sei. – soltou uma risada impertinente e levou o telemóvel ao ouvido.
Poucos momentos depois, falou para o iphone num tom tão profissional que quase parecia infantil.
- Michael Collins? Daqui Edward Cole.