Cheira a mar.
Cheira a flores.
Cheira a juventude, cheira a Primavera.
O Sol passa levemente entre as folhas verdes das árvores altas, forma desenhos luzidios no chão.
Recostei-me no banco de jardim, senti a aragem meia fresca da tarde. Pousei o lápis ao meu lado, em cima do caderno, envolvi o cabelo nas mãos, num rabo de cavalo, soltando-o ao sabor do vento em seguida.
No banco ao lado, sentava-se o velhote do costume, aquele que olha o infinito de olhos baços e vazios, que usa a camisa azul desbotada, a gravata preta e o chapéu de coco. É esquisito vê-lo ali sabendo que, na sua juventude, era uma pessoa culta e lúcida. Agora limita-se a fitar algo invisível e a dizer frases sem sentido.
«É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.»
É isto que ele diz o velho, recita Eugénio de Andrade todo o dia, ali sentado ao meu lado.
Se lhe falar ele não me responde, apenas diz aqueles dois versos.
É um mistério bem sei, a vida daquele homem. Há quem diga que era marinheiro, outros que era pescador. Mas não sei...não sei...
Levantei-me.
«Menina, não se esqueça: é urgente o amor.» assim ele me disse.
«É urgente um barco no mar.» respondi.
Quando virei a cabeça ele já não estava lá. Sorri.
«É urgente o amor, é urgente permanecer.» murmurei, enquanto me afastava dos bancos, enquanto o chapéu de coco no chão rolava com o vento doce e morno da tarde.
Até um próximo post,
Joana F.