BLOG FECHADO

01
Out 09

            A noite já se havia cerrado em Paris, e pequenas luzes tremelicavam na imensidão da cidade como olhos, por baixo da roxa escuridão.

            Numa das mais movimentadas ruas da cidade, atrás da cacofonia da civilização e dos flashes dos carros a passar, elevava-se o Le Château, sóbrio, largo e escuro como um bloco de pedra em bruto. O Hall, totalmente iluminado, estava silencioso. Nem uma mosca se atrevia a desfazer aquele ambiente de cortar a respiração.

            De um momento para o outro, sem aviso, o salto alto de uns elegantes sapatos pretos foi reflectido no chão de mármore branco e o som que produziu ecoou por todo o Hall. Atrás destes pés femininos, seguiu-se um outro par, calçado em antigas sapatilhas Converse All Star. Lado a lado, seguiram determinadamente até às portas douradas dos elevadores. Estas abriram-se com um plim suave, e ambas as pessoas desapareceram no seu interior, em direcção ao primeiro andar.

            Pouco depois, novamente o sossego foi perturbado. Uma confusa sucessão de pernas masculinas apareceu na porta giratória e avançou sobre a pedra polida. Só aí se puderam distinguir os três pares que constituíam aquela cachoeira de membros inferiores. Estes voltaram a juntar-se para se dirigirem às escadas, que subiram de uma forma excessivamente saltitante, até ao primeiro andar.

            A Sala Montesquieu permanecia no mesmo lugar, mesmo no centro do edifício, no primeiro andar. Um dos cadeirões, a ser banhado pela luz crepitante do fogo na lareira, era ocupado por Raoul Lewis. Alto, belo como um boneco de porcelana, a pele rósea a ser fustigada por sombras resultantes das ondas da fogueira. O cabelo, mais negro que a noite, tinha sido cortado recentemente e mostrava a sua alta testa lisa. Um disforme abcesso tomava lugar no seu flanco, parcialmente escondido pela fralda da camisa. Era um objecto duro e largo, preso no cós das calças – um revólver. Raoul, na sua silenciosa angústia, via no fogo os rostos que não lhe saíam da mente, os acontecimentos que teimavam em bailar-lhe nos sonhos. Fora num acto de desespero que escrevera aquelas cinco cartas, todas muito semelhantes, e as mandara para quatro locais: Kiev, Detroit, Nova Iorque e Chicago. Esperava que eles chegassem rapidamente, mas nunca parecia ser rápido o suficiente.

            Quando um toro de madeira meio queimado deslizou e estalou alto, faíscas laranjas saltando na lareira, Raoul ouviu o suave roçagar de tecido. Virou-se num gesto lento e cuidadoso, vendo duas figuras escuras recortadas contra a semi-claridade do corredor.

            - Entrem. – murmurou, e voltou a recostar-se no cadeirão.

             Os dois vultos deslizaram sobre a carpete e instalaram-se no círculo formado pela luz emitida pelo fogo.

            - Violet, Lancelot, bem-vindos.

            Os rostos dos dois recém-chegados foram cobertos pela crepitante resplandecência do lume.

            - Olá, Raoul. Estás com bom aspecto. – disse Violet, numa tentativa de estabelecer uma conversa de conveniência.

            - Nem por isso. – sorriu – Mas estou contente por vocês terem chegado. Os outros?

            Violet e Lancelot entreolharam-se.

            Uma voz soou.

            - Aqui.

            Todos rodaram sobre si mesmos. No umbral da porta, estavam os três – Danny King, Edward Cole e Jesse Stone – a observar o interior seriamente. Entraram num andar calmo e pausado, tomando os seus lugares no semi-círculo de cadeirões vazios que os esperavam. Estavam de novo juntos, os seis, e o grupo encontrava-se completo. No entanto, uma neblina indistinta, quase parda, pairava sobre eles como uma sétima presença; uma presença morta, pesada, que não os deixava respirar. Abraçaram o silêncio, num período de mudez semelhante a uma homenagem fúnebre.

publicado por Katerina K. às 23:17

Obrigada, mas comparados com os teus não são nada :b.
fashionholic a 1 de Outubro de 2009 às 23:37

Obrigada, vou passar a vir aqui mais vezes :).
fashionholic a 2 de Outubro de 2009 às 11:20

Esta rapariga mata-me.....!!!!!

Gostei do cenário

E estou a gostar do suspense.....

Bj e Bom fim de semana
Subjectividades a 2 de Outubro de 2009 às 15:58

Se te apanhar, nem sei o que é que te faço, pá !
Não escrevas melhor nem mais bonito, porque não é preciso :c
inês. a 2 de Outubro de 2009 às 17:06

Obrigado :D ando a seguir a tua tambem *
Só o titulo deixa um arzinho daqueles inesplicaveis :O
Marie C. a 2 de Outubro de 2009 às 17:37

mais uma vez, maravilhoso!
e com a dose de suspense do costume :D
ana a 2 de Outubro de 2009 às 17:55

a arte do desenho corre no sangue daquele homem xD
nem sei o que faz ele a ensinar fq com aquele talento nato para as artes, ahah
ana a 2 de Outubro de 2009 às 20:27

Tens uma nova leitora. Vou passar a ler sempre que poder , mas mesmo assim acho que é melhor ler os outros capitulos , assim não sei nem metade da historia (:
Agora fui eu que invadi, aha!

xoxo
Jouhanne a 2 de Outubro de 2009 às 21:11

Obrigada :)
Nem imaginas o quanto fiquei contente quando li o teu comentário, querida.
inês. a 2 de Outubro de 2009 às 21:36

Hey, muito obrigada :3
Fiquei com curiosidade de ler o que escreves, mas queria começar do princípio. Por isso, prometo que, quando tiver tempo, venho aqui ler ^^

Beijinho @
Sássára a 2 de Outubro de 2009 às 23:57

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