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11
Mai 10

Camryn Sanders verificou que a casa de Maureen se mantinha exactamente igual, imponente no seu esplendor polido e forrado a sedas e veludos. As paredes cobertas de papel de parede cor de vinho, o piano, a lareira carregada de fotografias e bibelôs, o retrato da avó Ward, o cadeirão de costas para a janela, as extensas prateleiras vergadas pelo peso dos livros, o divã negro encostado à parede. Tudo exalando a calidez e o perfume adocicado de Maureen. Camryn deitou-se no divã, cruzou as pernas nos tornozelos e as mãos sobre a barriga. Podia descansar, por um momento.

Marcus nunca deixava de ficar surpreendido com a incrível arrumação que Maureen impunha nos seus domínios. As superfícies meticulosamente limpas, sem um vestígio de pó; o cheiro fresco da limpeza planava no ar. Interrogou-se como ela conseguiria manter a casa naquele estado e ainda também ela se apresentar perfeitamente arranjada, dentro dos longos vestidos clássicos que ela tanto gostava de usar, quase numa antítese ao mundo moderno.

- Como está ele? – perguntou Camryn, sem abrir os olhos e mantendo uma expressão impenetrável.

- Bem. – respondeu Maureen – Apenas cansado, como é costume. Chegou ao princípio da tarde, trocámos meia dúzia de palavras e ele foi-se deitar. Nem sequer quis almoçar.

- De esperar. Sabes que ele quando pode dormir, aproveita. Não perde tempo a comer.

Maureen inclinou a cabeça num gesto de concordância.

- Mas, - continuou Camryn – agora que aqui estamos, podias ir chamá-lo. Já dormiu o suficiente para aguentar uma conversa. Mais logo dorme mais.

- Muito bem. Vou acordá-lo.

No entanto, Maureen viu-se ser envolvida por um braço poderoso que a impediu de se mover. Camryn sorriu ao sentir um intenso odor melífluo a colónia de homem.

- Olá, Bryant.

Maureen estava presa no abraço de Bryant Kiernan, no alto, belo e imenso Bryant Kiernan. Marcus observou-o enquanto ele passava a mão pelo reluzente cabelo negro penteado para trás e focava os olhos castanhos na silhueta de Camryn, deitada sobre o divã.

- Viva, Cam. E Marcus.

Ela abriu os olhos e virou a cabeça na direcção dele.

- Não me pareces nada sonolento.

- Dormi bem. Também tenho direito, ou não?

- Claro que tens. – replicou ela, com um sorriso.

Bryant caminhou na direcção dela, estendeu-lhe a mão e ergueu-a como se não tivesse peso. Camryn fitou-o, com uma expressão séria, ainda que calma. Ficou um momento com os olhos fixos nele, a medir-lhe as feições, a perder-se no olhar castanho e dourado sem fundo que conduzia ao seu negro interior. Então, ergueu lentamente a mão e passou o indicador pela pele macia e cálida de Bryant, contornando as linhas curvas do seu rosto, a ponte do seu nariz curto, as fronteiras da testa ampla, as pálidas maçãs do rosto. Era como se estivesse a mergulhar a mão numa taça de mármore líquido, quente e envolvente que lhe sugava o braço de forma insistente. Recolheu a mão com um movimento rápido. Ele sorria, mantendo-se fixo num ponto dos olhos de Camryn.

Marcus mexeu-se imperceptivelmente. Ficava inquieto sempre que Bryant e Camryn se encontravam. Havia algo de errado na maneira como eles se olhavam, na maneira como se tocavam. Marcus sabia que o que havia, ou tinha havido, entre eles era mais complicado do que alguém poderia alguma vez compreender.

Bryant debruçou-se sobre ela e depositou-lhe um beijo quente nos lábios. Ela fechou os olhos e agarrou-o pelos braços, sentindo-o a contrair-se como se estivesse nervoso. Sabia que só o podia beijar uma vez em cada três meses, quando ele voltava das suas viagens para passar duas noites com eles, em casa de Maureen. Enquanto sentia o sabor dele, pensou se desta vez ele ficaria mais tempo. Talvez ficasse. Esse pensamento trazia-lhe alguma paz de espírito, por alguma razão.

Ele afastou-a suavemente de si e sorriu.

- Agora, sim. Olá, Camryn.

Maureen encostou-se à parede, lançando um olhar a Marcus. Subitamente, tinha ficado extremamente pálido, quase amarelado, com os olhos pregados no chão e os dedos nervosos a fazer desenhos sobre a ganga das calças. Ele ficava sempre intimidado frente à forte presença de Bryant. Mas Maureen entendia-o. Bryant exalava algo que era mais que poder; exalava uma aura fria de algo que ela receava. Baixou os olhos. Impressionava-a como Camryn se mantinha alheia à desconfiança que ele causava neles. Como Marcus lhe dissera, haviam razões para tal suspeitas. Bryant não era como eles. O medo sempre levara a melhor.

- Bem, - disse Bryant, sentando-se no divã, ao lado de Camryn – comecemos por discutir o facto de vocês estarem a ser seguidos.

 

publicado por Katerina K. às 14:48

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