BLOG FECHADO

23
Nov 09

                Jesse estava deitado na chaise longue do quarto, com as longas pernas esticadas e unidas nos tornozelos. Observava uma réstia de luz nocturna que entrava no quarto e se espraiava no tecto. Era apenas naqueles momentos, nos quais estava sozinho na escuridão, que podia pensar, pensar nas coisas que tinha feito. No entanto, naquele momento, não conseguia deixar de pensar no agente do FBI, Michael Collins, e naquilo que a sua visita traria: mais memórias.

                Bateram à porta, numa insistência quase desesperada. Quando ninguém respondeu, voltaram a bater.

                - Quem é? – perguntou, enquanto se levantava e vestia a camisa.

                - Sou eu.

                Abriu a porta e viu-a.

                - Violet?

                - Posso entrar? – disse ela, enquanto limpava os olhos com a manga do casaco.

                - Claro.

                Ela entrou no quarto a passo lento, quase como se observasse cada detalhe com ínfima atenção. Vinha descalça e despenteada, com as mãos escondidas num casaco de malha grosso que lhe roçava os joelhos.

                - O que te traz por aqui? – perguntou ele.

                - Queria saber se ainda tens sabonete. O meu acabou.

                - Tenho, sim. Mas porque não pediste ao Edward? Afinal, ele está no quarto ao lado do teu.

                - O Ed a esta hora já está no seu sétimo sono. – riu-se do seu próprio gracejo.

                Pela primeira vez, Violet apercebeu-se de que aquele quarto era maior do que o seu. Um incontável número de raios prateados atravessava o silêncio como garras rectangulares esculpidas nas paredes. Aparte disso, só escuridão. Ele sentou-se aos pés da cama e ficou a fitá-la, como se ela fosse uma obra de arte.

                - Porque é que as coisas entre ti e o agente do FBI não resultaram? – perguntou ele.

                Violet acomodou-se na chaise longue, inclinando-se para a frente.

                - Na altura, ele não era agente do FBI, - respondeu ela – era apenas o irmão da minha melhor amiga.

                - E o que é que mudou?

                - Eu queria ir para Chicago, ele preferia ficar em Washington. Foi o que aconteceu. – encolheu os ombros com um suspiro.

                - Só isso?

                - Só.

                Jesse humedeceu os lábios antes de fazer a pergunta seguinte.

                - E entre nós, o que é que não resultou?

                Ela sorriu, inesperadamente, mas fora um sorriso triste, quase apagado.

                - Somos demasiado diferentes, Jesse. Quer dizer, já olhaste bem para nós?

                - Tens razão, mas tenho pena. De qualquer modo, é melhor assim. Eu não sou boa pessoa.

                Violet ergueu os olhos e fixou-os nele com uma candura de outro mundo.

                - Claro que és. É por isso que estás aqui, que nos pagaste o jantar, que gostas de ficar sozinho para pensar. Tens sentimentos e consciência como o resto de nós, mas tu sabes escondê-los.

                Ele não respondeu, sabendo que o que ela acabara de dizer era totalmente inatacável. Ela sempre fora a figura autoritária, maternal, que mergulhava toda a gente num carinho sobrenatural. E havia coisas, como aquela, que nunca mudavam. Quando Violet se sentou ao seu lado e passou o longo dedo cor de mel pela cicatriz que lhe rasgava a branca mandíbula, Jesse soube que a noite ia ser longa.

publicado por Katerina K. às 14:10

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