Edward Cole respirou o maciço ar de Nova Iorque, enchendo os pulmões de uma fragrância de café, frango frito, jornais e fumo de escape. Apesar de tudo, era bom estar de volta à Big Apple. Tinha sido consumido pela complicação europeia tempo demais, estava bem na hora de tomar um Frapuccino no Starbucks e saborear um belo brownie caseiro. No entanto, a coisa de que mais saudades tinha, era dos diminutos táxis amarelos, que resplandeciam entre a poeira e a luz do sol.
Edward fora, deveras, surpreendido pela carta de Raoul Lewis. Na verdade, pouco contacto tivera com ele depois do Inverno em Paris, e fora com estupefacção que recebera a carta pelas mãos de William Harrington. Quando a leu, pareceu-lhe que uma bigorna tomou o lugar do seu coração no peito. Não havia muitos pormenores, tudo se assemelhava a uma montanha de vago. Mas fora o suficiente para entender o cerne da questão: que alguma coisa se passava de errado em Paris, alguma coisa que tinha renascido do passado – daquele Dezembro.
Foi com algum prazer que Edward se apercebeu que ia voltar a ver Violet Simmons. Sentia falta dela, do riso dela, da figura maternal e autoritária que exercia influência no mundo ao seu redor. Levou a mão ao bolso do casaco, brincou com os dedos. Era uma boa amiga, e uma excelente artista. Tinha curiosidade em saber como se estava a sair no estudo do violino, se continuava a ser uma virtuosa inveterada. Ao mergulhar o pensamento nos caracóis acobreados de Violet, nos seus olhos castanhos e na figura elegante, lembrou-se de Jesse Stone. Um breve calafrio espalhou-se-lhe pelas costas. Jesse, desde que fora estudar para a School of Arts, era uma sombra pesada e carismática, que falava com o denso olhar felino. E a cicatriz que ele tinha na face esquerda, por mais que Edward quisesse, não lhe saía da memória; talvez por ter sido ele próprio a marcá-la na mimosa e pálida pele de Jesse.
Quando Edward se apercebeu, já estava junto ao balcão do Starbucks. Foi atendido por uma rapariga que, pelos vistos, tinha andado com ele no Junior High, chamada Clarissa. No entanto, ele não se lembrava dela. De qualquer maneira, sorriu como se se lembrasse e despediu-se com um amigável aceno, transportando o seu Frapuccino gelado. Sentou-se numa das mesas livres, pousou o copo cor de palha e procurou o iPhone nos bolsos das calças. Colocou-o ternamente junto à bebida, observando atentamente o mostrador. Esperava notícias, não sabia bem de quem.
Cinco minutos voaram, outros cinco correram atrás dos primeiros. Edward continuava a fitar o mostrador, à espera. Mas nada se alterava.
Subitamente, uma figura negra e roxa passou disformemente na frente dos olhos do rapaz, acabando por se sentar na cadeira vazia. Com espanto, Edward verificou que Danny King continuava perfeitamente igual, o mesmo sorriso galante e arrevesado a saltar-lhe no rosto. E o mesmo cabelo.
- Okey, Ed, não temos muito tempo. – disse Danny, falando numa rápida catadupa de palavras encavalitadas umas sobre as outras – Primeiro, é bom ver-te. Segundo, recebeste a carta. Terceiro, e último, o nosso voo para Paris parte daqui a uma hora. Já devíamos estar no aeroporto.
Levantou-se repentinamente, deixando Edward de olhos esbugalhados, no mesmo sítio, a olhá-lo incompreensivelmente.
- Mas…mas…eu acabei de sair de um avião!
- Pronto, Ed, estou cheio de pena. – pronunciou Danny, revirando os olhos – E agora, já podemos ir?
Edward Cole só teve tempo de pegar na mala e recolher o telemóvel. Nem queria acreditar que ia voltar a Paris, três anos depois de todas as coisas que lá se haviam passado.