Como prometido, eu queria postar uma pequena parte do primeiro capítulo do meu policial antes de partir para a Polónia, coisa que acontece quarta-feira. Portanto, deixo-vos com uma espreitadela daquilo que um dia espero publicar. Espero pelas vossas opiniões!
Joana F.
O Comissário Elias Pimenta era um homem de princípios, um homem de hábitos firmes e convictos que odiava qualquer actividade que adulterasse o seu arrumado e ocioso dia-a-dia. Todas as manhãs, acordava às seis e meia da madrugada, levantava-se vigorosamente e vestia a farda, que envergava com um raro orgulho patriótico. Fazia a barba e penteava o farto bigode grisalho, no qual depositava um especial carinho, e, depois de se despedir da mulher e das duas filhas, saía de casa para ir trabalhar, na esquadra do Comando Metropolitano do Porto da Polícia de Segurança Pública. Todos os dias, sem excepção, tomava um café forte e mordiscava um pastel de nata no Café da Gracinha, junto à esquadra. Depois, mesmo antes de entrar ao serviço, fumava um dos seus dois cigarros diários.
No entanto, aquele dia começara particularmente mal para o Comissário Pimenta. Acordara um quarto de hora mais tarde, cortara-se a fazer a barba, os pastéis de nata da Gracinha estavam queimados demais e o seu isqueiro pura e simplesmente não acendia. Deste modo, quando Elias Pimenta entrou na esquadra e bateu com a porta do seu gabinete atrás de si, Íris Marinho, a sua fiel e devota secretária, soube que o dia não ia ser fácil. Íris ergueu-se sobre os seus elegantes e conservadores sapatos de salto alto e caminhou calmamente até à porta do gabinete. Bateu levemente com os nós dos dedos, abriu-a e entrou, sem um ruído. Elias Pimenta estava sentado na sua confortável poltrona giratória, com os cotovelos apoiados na mesa e o rosto entre as mãos. A mulher, ignorando o triste cenário como boa subordinada que era, falou clara e pausadamente, escolhendo as suas palavras com máxima eficácia.
- Bom dia, senhor Comissário. Deseja que lhe traga alguma coisa?
Sem tirar a cabeça de entre as mãos, o homem respondeu.
- Não, obrigado.
- Que tal uma chávena de chá quente?
- A Íris sabe que odeio chá.
Sim, a secretária sabia-o. No entanto, na pilha de nervos que o Comissário se encontrava, um chá de camomila não lhe faria mal nenhum.
- Como queira, senhor Comissário.
- Traga-me o correio, apenas.
Ela girou nos calcanhares e flutuou rapidamente sobre o linóleo, até à sua mesa, onde mantinha o correio. Voltou ao gabinete e estendeu-o na direcção do Comissário. Este agarrou-o avidamente, como que num acto de desespero, os seus olhinhos negros cintilando