Frio. Uma camada húmida de gotas frescas sobre a pele.
A noite já vai longa, as minhas mãos cheiram a verdes e a pétalas.
De um lado, o David passa a mão pelos cravos. Do outro, o Afonso limpa os dedos às calças velhas.
Canto o Fado Português, elevo a voz sozinha na noite. Imagino as guitarras na minha cabeça.
O David oferece-me o seu casaco. Agradeço, pois o gelo da noite corta-me a epiderme branca como cal. Visto-o e vejo-me revestida pelo calor corporal que ele deixara no tecido quente.
«Ai, que lindeza tamanha...»
Ouço alguém.
«Meu chão, meu monte, meu vale...»
Cantamos.
«Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal...»
O David.
«Olhar ceguinho de choro.»
Ri-me, nem sequer sabia que ele conhecia a letra. Afonso, vai buscar o violino.
David, canta comigo.
Todos cantamos, vozes novas, vozes velhas. E as flores tremelicavam com o som, deitadas na calçada molhada, formando padrões coloridos e figuras.
Passa por nós uma Gaivota.
Olhei o relógio, eram três da manhã.
Até a um próximo post,
J.F.