Hoje a manhã floresceu fria. Quando acordei, o Cláudio e a Lília ainda estavam a dormir. Liguei o esquentador da água, um cheiro leve a gás invadiu a cozinha e beijou os azulejos. Fui tomar banho, coisa que estava mortinha por fazer desde a noite de ontem, mas que ainda não tinha tido oportunidade. A água escaldou-me a pele, molhou-me os cabelos e humedeceu-me os lábios. Saí do chuveiro, aventurei-me no nevoeiro causado pela água quente que até aí me corria pelas costas. Vesti-me. Ouvi o Cláudio a restolhar nos lençóis e a falar com a Lília. Eu queria sair de casa antes que eles decidissem levantar-se. Entretanto, chegou o João para ir comigo para a paragem. O Tomás já nos esperava, o cabelo na habitual organizada confusão. Beijei-lhe a face pálida e ele sorriu.
«Bom dia, alegria! Que porcaria de dia!»
«Estás um poeta, Tomás.»
«Bah, faz-se por isso.»
O João parecia ter adormecido contra a parede caiada de branco. Abanei-o levemente e ele estremeceu. A Ariel juntou-se-nos pouco depois, com os cabelos ruivos apanhados na nuca. Começámos a falar de coisas que não tinham sentido nenhum. Acabámos por perder o autocarro, como consequência. Então, pregámos o tiro à escola e fomos para casa da Ariel dormir e beber leite quente, porque a manhã tinha florescido fria.
Até um próximo post,
Joana F.