Eu e a Margarida sentávamo-nos no parapeito da janela.
Ela lia a Vogue, embrenhada no estudo de uns óculos de sol super caríssimos.
Fitei o tecto, olhei de relance a minha Mensagem de Pessoa em cima da cama. Ambas abanávamos levemente a cabeça ao som da Never Too Late dos Three Days Grace.
- Acreditas no destino, Jo?
- Não.
- Porquê?
- Custa-me muito a acreditar que andamos aqui, feitas marionetas, a percorrer uma linha que alguém se lembro de desenhar, um dia.
- Mas não és tu que acreditas em Deus e que ele sabe tudo o que fazemos?
- Sim, mas isso não implica que nós não tenhamos controlo sobre as nossas vidas.
- Eu cá acredito que nós estamos aqui todos para cumprir um certo propósito e que já temos o destino traçado.
- Concordo com a primeira parte, discordo da segunda. Um propósito sim, temos, senão nunca tínhamos nascido. Mas agora destino traçado não me parece.
- Então não temos?
- Claro que não. Tu a dizeres isso estás a dizer que não temos a liberdade de escolha, que só estamos a «ler um guião».
- Não, nós podemos escolher.
- Segundo o que estás a dizer, não podemos porque o destino é algo imutável e inalterável.
- Não.
- Então concordas comigo, que não há destino.
- Há destino!
- Estás a fazer uma confusão desgraçada, tens noção??
- Cá para mim, façamos o que fizermos, temos o futuro já escrito e não há nada a fazer.
- Isso é a desculpa dos fracos, dizer que já têm o destino traçado...Achas que vai acontecer alguma coisa se ficares de braços cruzados e olhar para o tecto? Achas que as coisas te vão cair em cima por obra divina do espírito santo?
- Estou a ficar confusa...
- Tu queres é atirar as tuas responsabilidades para o destino!
- Não! Apenas acredito nele!
- Oh rapariga, a única certeza que temos é morrer! Tudo o resto da vida é o que nós fazemos dela!
A Margarida baixou a revista e, franzindo o sobrolho, disse:
- Tens razão...
Até a um próximo post,
Joana F.