Estou de volta, queridos leitores. A Polónia encheu-me de ideias, estou a rebentar pelas costuras de imaginação. No entanto, não foi o suficiente para escrever uma série sobre a viagem, mas não há problema, pois uma série nova - esta - estava já prometida. Então, para os recém-chegados, esta é a continuação da série «O Rapaz Cor de Luz». Aconselho a lê-la primeiro. A série pode ser lida como uma história independente, mas algumas coisas vão escapar ao leitor. Espero que gostem!
Joana F.
Brisa, substantivo feminino – vento fresco e brando que, de dia, sopra do mar para a terra ou do vale para a montanha e, de noite, em sentido contrário; aragem; viração.
O Honda Hybrid do Hélio parou silenciosamente junto ao passeio, as rodas arranhando suavemente a calçada.
- É aqui.
Olhei a casa que ele me indicou, com um certo medo. Era um edifício magnífico, alto e majestoso, erguendo-se em paredes imensas de granito, janelas e vitrais.
- O castelo do Drácula. – murmurou o Hélio, quase inaudivelmente.
Não me consegui rir, pois no meu íntimo eu sabia que era uma boa metáfora, talvez boa demais. Recostei-me no banco confortável, com as mãos unidas em concha no regaço, entre as quais repousava uma folha de papel branco dobrada em quatro. O bilhete. «Visita-me, por favor.» Aquelas palavras estavam tão vívidas na minha mente como se tivesse sido eu a escrevê-las. Durante as passadas duas semanas, eu havia reflectido sobre aquele pedido, tão elegantemente desesperado, que jazia naquele pedaço níveo de celulose, decalcado a tinta preta proveniente do que, pelo risco específico e inconfundível, me parecia ser uma caneta Parker – a caneta que o Anjo tinha desde os seus doze anos. Aprendi muito sobre ele nas minhas conversas com o Hélio, mas não o suficiente para conseguir extinguir a minha crescente curiosidade. Aprendi, por exemplo, que ele tinha dezoito anos e não os iniciais dezasseis que eu lhe havia atribuído. Deixara-me enganar pelo rosto macio e desprovido de qualquer tipo de barba, o que era especialmente estranho para um rapaz da idade dele. Aprendi também que nascera a 25 de Dezembro, no dia de Natal, e que era o terceiro de sete irmãos.
- O Anjo – dissera-me o Hélio – é boa pessoa, mesmo que não seja essa a impressão que deixe habitualmente. No entanto, não se pode dizer que seja alguém simples. Ele tem as suas…bem, particularidades. Algumas certamente já tiveste ocasião de ver, outras ainda não. Mas verás o que quero dizer.
Abri os olhos, fitei o rosto vermelhusco e redondo do Hélio.
- Obrigada pela boleia. Não queria vir sozinha de comboio.
- Oh, Joaninha, não agradeças. Admito que a viagem é extenuante, mas Sintra é uma cidade insolitamente bela. Vale a pena cá vir.
Sorri, não antes de o beijar no rosto. Agradeci mais uma vez, e obtive como resposta um amigável aceno. Enquanto via o Honda a descer velozmente a rua, comecei a reconsiderar a minha decisão. Virei-me e observei a porta de entrada da casa. Era um colosso de mogno escuro, sério e solene, embutido na pedra malhada. Só aquilo já impunha um respeito fora do comum. Engoli em seco e toquei à campainha.