O Nome de Deus
Dentro de mim havia uma praia,
uma praia onde o mar era branco
e nas rochas viviam pássaros.
O Sol punha-se e nascia a este
e na noite não brilhava a estrela polar.
Dentro de mim, só havia essa praia.
Veio a noite. Como dizia a minha avó,
o céu fechou para obras.
Na minha noite, nessa noite em que só havia silêncio,
o mar calava-se e odiava a areia.
As sombras morriam na escuridão que as vira nascer
e os pássaros eram corvos.
Quando quebrei, fez-se noite profunda.
A praia fez-se morte e cinza.
Os corvos riam-se de mim
e caíam lágrimas negras das suas asas.
Nesse momento, soube o Nome de Deus
e escrevi-o na areia. No entanto, não vieram anjos
trazendo o sol nos dedos.
Pelos vistos, Deus mudara de nome.
Pensei se poderia atar uma corda ao Sol
e puxá-lo,
mas a força fugia-me como ar.
Os corvos ainda me olhavam em escárnio.
Quis afogá-los no mar que odiava a areia.
Mas quebrei, e já não mandava
nem nos braços, nem nas pernas.
Sem sair do mesmo sítio,
caminhei pelo areal.
E em todos os faróis,
que eram olhos e estavam apagados,
escrevi o Nome de Deus.
Até a um próximo post,
J.F.