Lavei o rosto com água morna. Espalhei o sabonete pela pele e deixei-o sair com a água que o havia abraçado.
O David estava encostado à ombreira da porta, de braços cruzados e apoiado na perna direita. Observava-me com um sorriso trémulo nos lábios.
«Eu não demoro, não te preocupes.»
Ele assentiu e eu envolvi a face na toalha que descansava junto ao lavatório.
«Como dormiste?»
«Bem» respondi.
«Estás pálida.»
«Tenho fome, é normal.»
Ri-me jocosamente e ele apenas abriu mais o seu sorriso.
Pousei a toalha no seu local de descanso original. O David aproximou-se e pegou no sabonete por cima do meu ombro.
«Acrobacias dispensam-se.»
«Nem por sombras!»
Abriu a torneira e molhou-me com um espirro de água. Pelo que o Afonso mais tarde me contou, a minha expressão de surpresa e quase terror não tivera preço.
Praguejei, mas não lhe consegui chegar à face para o castigar com uma estalada, pois ele prendeu-me o braço na sua mão titânica e beijou-me a testa.
Amuei e retirei-me para a cozinha. O Afonso estava no corredor, sentado nos calcanhares, a chorar de riso.
«Homens» cuspi, com desprezo.
Ele trocou os olhos e imitou-me.
Seguiu-se um minuto de silêncio de vácuo.
Então, desatámos a rir.
Até a um próximo post,
J.F.