BLOG FECHADO

11
Jan 10

            A paisagem passava em frente aos olhos de Sawyer Hayden como faíscas electrificadas. Dentro do carro do FBI, sentado sobre o banco de couro negro, o seu corpo encontrava-se completamente contraído. Já não se lembrava como aqueles carros eram frios. Ajustou o colarinho da camisa e apoiou o cotovelo na porta do automóvel. Pelo canto do olho, observou Aldous McBee. Os seus longos dedos aracnídeos tamborilavam sobre o tecido das calças. Nervosismo. Olhou o anelar esquerdo e viu a pequena descoloração em volta da pele, no sítio onde anteriormente estivera a sua aliança. Entre o indicador e o médio, duas marcas ovais a giz azul esbatiam-se calmamente contra a pele. Bilhar, e provavelmente um par de apostas. Sawyer esboçou um sorriso discreto. A quantidade de coisas que se podiam saber sobre uma pessoa apenas pela observação das suas mãos.

            - Daqui a uns minutos, estaremos na sede. – disse Aldous, no tom formal que adoptava quando falava com alguém que não gostava.

            - Eu sei, ainda me lembro do caminho.

            - Calculo que sim. – lançou-lhe um esgar – Sawyer, diz-me: estás mesmo preparado para voltar a este assunto? Sei que com o teu historial, bem, não deve ser fácil.

            - Poupa-me, Aldous. Como se estivesses muito preocupado comigo. Quando eu saí do FBI, tu ficaste com o meu emprego.

            - Verdade, mas não deixo de ter respeito pelo teu trabalho. Foste um dos agentes mais brilhantes que o Bureau já viu. Foi pena aquilo d’A Rainha.

            A Rainha. Sawyer engoliu em seco. Apesar de terem passado sete anos, não havia dia em que não pensasse nela. A Rainha foi o seu terceiro grande caso, e o Bureau tinha delegado toda a responsabilidade nele. Era impossível falhar, pois, apesar de mediático, o caso era relativamente simples. No entanto, A Rainha revelara-se escorregadia e extremamente difícil de apanhar. Era uma mulher diabolicamente inteligente e ambiciosa, que delineava e executava os seus roubos de forma discreta e com uma exactidão perfeita. De qualquer modo, Sawyer nunca acreditara que ela conseguisse fazer tudo aquilo sozinha; tinha, com certeza, um companheiro. Ou companheira. Era difícil dizer. E depois aquele dia, o dia em que…

            Aldous McBee tossiu de forma brusca. Sawyer estremeceu e enterrou o rosto na palma da mão. Odiava quando lhe interrompiam o raciocínio, especialmente de forma tão abrupta. Retomou a linha de pensamento, mas esta foi rapidamente desviada para aquele momento de tão aparente simplicidade durante o qual Aldous tossiu. Sawyer viu confirmada nesse instante a suposição de que Aldous não estava apenas nervoso porque não gostava dele. Aldous estava nervoso porque tinha medo que ele decidisse voltar para o FBI e que ficasse com o seu lugar. Mas Sawyer não ia voltar para o FBI.

            - Chegámos.

           

            O odor a tinteiro de fotocopiadora e o aroma ligeiro do tecido dos fatos continuavam com a mesma intensidade adormecida e omnipresente. Reconheceu o perfume adocicado de Laurie, mais conhecida por Agente Especial Ashton e o som ligeiro que o coldre axilar de Bob Barton fazia ao roçar contra a sua camisa. Tudo continuava imerso na sua dormente normalidade. Ao fundo do corredor, a porta do gabinete do Director recortava-se na castanha claridade. Através do vidro fosco, passava uma luz branca que provinha do interior do compartimento. Aldous estugou o passo e enrolou os longos dedos em volta da maçaneta. Girou-a e a porta cedeu para trás suavemente sobre a carpete.

            Atrás da secretária, o Agente Especial Vince Moretti passava um pano amarelo sobre o seu revólver. As suas mãos, apesar de pálidas, eram fortes e maciças, com as veias salientes na pele ligeiramente coçada. Sem erguer os olhos, falou.

            - Não se bate à porta, Aldous? Onde estão as tuas maneiras?

            O seu rosto quadrado iluminou-se num sorriso lateral que lhe elevou as maçãs do rosto e fez fios de cabelo grisalho cair-lhe sobre os olhos verdes.

            - Peço desculpa, Vince.

            - Tudo bem.

            Sawyer atravessou a porta. A delirante fragrância a almíscar e a tabaco egípcio atingiu-o mais uma vez, exactamente da mesma forma que se lembrava que isso acontecesse. Os olhos do Director, tão vivos no rosto talhado de rugas, fixaram-se nele e percorreram as suas roupas amarrotadas.

            - Bem-vindo de volta, Sawyer.

            Sorriu.

            - Não estou de volta.

            - Isso é discutível. Senta-te.

publicado por Katerina K. às 16:21

Amei novamente. Já tinha lido, mas só agora é que pude comentar.
Opah +.+ quero saber mais sobre A Rainha : D
Escreves tão bem! God, damn it +.+
Mudei-me. Tchauzinho. a 11 de Janeiro de 2010 às 19:54

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