BLOG FECHADO

30
Dez 09

             A bala, voando por entre uma chuva de fumo branco e faíscas douradas, girou veloz pelo ar até entrar na carne tenra do flanco de Violet Simmons. No seu rosto, pálido e brilhante de gotas de suor, ficou esculpida uma expressão de dor, de excruciante dor. Inspirou rapidamente e reteve o ar na garganta, como se não conseguisse mexer os músculos do peito; soltou um som de surpresa e sofrimento, à medida que os seus olhos eram cobertos por uma camada refulgente de lágrimas. Curvou-se para a frente e gemeu, por entre os dentes cerrados. Jesse observava-a, sem conseguir articular uma única palavra. Lentamente, colocou a mão com que segurava a perna dela sobre o local onde a bala tinha feito a sua entrada. Sentiu uma calidez triste a espalhar-se-lhe pela pele. Quando levantou a mão, o tom rúbeo que esta tomara assaltou-o; o vermelho do sangue contrastava com o branco da sua palma, como rubis. Jesse sentiu a morte debruçar-se sobre eles.

            Jacqueline baixou o braço. O seu lábio superior estava levantado num trejeito de arrogância, concedendo ao rosto uma sensação de superioridade.

            - A morte não é o maior dos males; é pior querer morrer e não conseguir.

            Jesse entendeu. O plano não era matá-los a todos, era apenas matar aqueles que eles mais amavam. Tudo até ali foram mentiras; tudo o que ela dissera ou fizera tinha sido ilusões, areia atirada para os olhos. Os sentimentos haviam levado a melhor. Sem eles, Jesse teria percebido que aquilo que Jacqueline queria fazer era apanhá-los desprevenidos, quando estivessem demasiado ocupados a salvarem-se uns aos outros. Ela sabia que ele viria ao encontro de Violet, e que assim teria a oportunidade perfeita para, finalmente, a matar.

            Jesse levantou o rosto e observou-a, com uma expressão de dor e lágrimas a correrem-lhe dos olhos.

            - Jacqueline, como foste capaz? Como foste capaz?!

            - Eu recolho as minhas dívidas com juros.

            Sorrindo, guardou a arma no coldre que lhe pendia do ombro.

            - Eu pensei que tinhas salvação, Jacqueline, que ainda era possível fazer alguma coisa. Mas estava enganado. Tu estás, definitivamente, louca.

            - Oh, Jesse, que ingénuo. Claro que estou louca.

            Violet soltou um gemido de tormento. O sangue espalhava-se pelo tecido do vestido, dando origem a uma mancha disforme e encarnada que parecia ter a figura do inferno. Jesse despiu o sobretudo e, com um impulso de força animal, arrancou a manga direita da camisa. Após o ter feito, amarrou-a em volta da cintura de Violet, na esperança que isso estancasse a hemorragia.

            - Tenta salvá-la. Tenta. Mas não acredito que o faças. – disse Jacqueline, ao cruzar os braços alvos – Vou trancar-vos aqui, e a verdade é que ninguém vos vai poder vir salvar. Enquanto vos deixo, vou tratar dos outros que, segundo me parece, estão lá fora à vossa espera. Não percebo como puderam ser idiotas ao ponto de pensar que conseguiam vencer isto. Bem, au revoir.

            Jacqueline levantou a mão num gesto de hipócrita despedida e preparou-se para sair. Mas, no momento em que se ia virar, sentiu algo encostado à parte de trás do pescoço. Não tardou a perceber que se tratava do cano de um revólver. O sorriso desapareceu-lhe do rosto.

            - Acabou, Jacqueline.

publicado por Katerina K. às 14:44

I know I would be :tt hihi
Rita a 30 de Dezembro de 2009 às 16:02

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