BLOG FECHADO

02
Set 09

            Era um ginásio, profissional e incrivelmente bem equipado. Quando o Anjo abriu a porta, uma baforada de ar fresco atingiu-me no rosto, corado e quente. À minha frente, estendia-se um imenso complexo desportivo. No entanto, em vez de ver balizas, cestos e o chão repleto de linhas divisórias coloridas, o que encontrei era algo completamente diferente: uma pista de esgrima, comprida e nívea. Eu nunca tinha visto nenhuma, pelo menos ao vivo. Mas a pista não estava vazia – duas figuras trajadas de branco travavam um duelo. O som dos sabres um contra o outro cortava suavemente o ar, numa melodia metálica. O Anjo pigarreou, levando o punho cerrado à boca. O duelo cessou de imediato e as duas figuras giraram lentamente nos calcanhares, de modo a poderem ver-nos.

            - Esse último ataque foi mesmo flácido, Ricardo. – disse o Anjo.

            Depois de um estranho momento de silêncio, uma gargalhada grave propagou-se pelo ginásio, ligeiramente entrecortada por um arfar de cansaço. O mais alto dos esgrimistas endireitou-se e retirou a máscara que lhe cobria o rosto. Fui atingida por um baque de surpresa. Fitavam-nos uns olhos profundamente azuis, tão azuis que pareciam pretos. O cabelo, negro, ligeiramente suado, pendia ao longo das orelhas, roçando os lóbulos dourados. Os seus lábios eram pálidos e extremamente bem desenhados, quase como a tinta chinesa. Algo naquele rosto áureo me fez perceber que ele era irmão do Anjo. O sorriso, talvez, ou a maneira como erguia o queixo em puro prazer.

            - Ai sim? – disse ele, com uma voz rouca e profunda – Eu digo-te, já, irmão.

            O Anjo, de mãos recolhidas nos bolsos, sorriu maliciosamente, lançando um olhar desafiador.

            - Francisco? – chamou, em voz baixa.

            O outro esgrimista retirou a máscara, respondendo, numa voz um nada infantil.

            - Sim?

            Era um rapaz, mais novo que eu. A sua face mimosa, pueril, conseguiu arrancar-me um sorriso de simpatia. Apesar de estar claramente na transição para a adolescência, já eram visíveis os traços régios da família Júlio Oliveira no seu rosto. No entanto, ao contrário do Anjo e do Ricardo, tinha cabelo cor de feno, que caía secamente sobre os olhos.

            - Dá-me o sabre. – proferiu o Anjo, firmemente.

            Francisco não questionou a ordem que lhe havia sido dada, e entregou a arma ao irmão. Quando o Anjo enrolou os dedos em volta da pega do sabre, julguei ver um laivo de cor nas suas faces, mas logo desapareceu. Levantou o braço direito, o qual ficou imediatamente hirto, paralelo ao chão. Vi, debaixo do tecido da manga da camisa, os seus fortes bíceps contraídos ao máximo. Uma pequena comichão de excitação ardeu-me na boca do estômago. O Ricardo deu uma risada, colocou de novo a máscara e pôs-se em posição de duelo.

            - Eles vão mesmo lutar... – disse o Francisco, com os olhos inundados de espanto.

            - Pois, parece que sim.

publicado por Katerina K. às 18:57

Esgrima *.*
Phoebe a 3 de Setembro de 2009 às 12:45

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